A vida, de fato, é uma mistura de escolhas. Cada passo dado, cada decisão tomada, molda o caminho de quem sonha alto. No universo do tênis, essa verdade se torna ainda mais evidente. O esporte, que encanta multidões com jogadas espetaculares e momentos de glória, esconde bastidores marcados por sacrifícios, renúncias e uma batalha constante contra as adversidades. A trajetória de um tenista raramente é linear; ela é construída com suor, dor e, muitas vezes, com a incerteza de um amanhã financeiramente seguro.
Quando vemos campeões como Novak Djokovic, Rafael Nadal, Roger Federer e Serena Williams, é fácil esquecer que, antes dos grandes palcos e dos cheques milionários, houve uma longa estrada repleta de dificuldades. Para cada atleta consagrado, há centenas de jogadores que lutam dia após dia, com poucos recursos, pouca visibilidade e um enorme fardo psicológico. É nesse ponto que a pergunta surge com força: a vida é feita de escolhas? Sim, mas quando as condições são desiguais, escolher insistir no sonho se torna um ato de coragem quase heróico.
Os obstáculos invisíveis: o peso da falta de apoio
O tênis é um esporte caro. Raquetes de alta qualidade, cordas, bolas, uniformes, taxas de inscrição em torneios, viagens para competir e até o aluguel de quadras representam custos elevados. Muitos atletas, principalmente de países com menos tradição no esporte, encontram nesse fator financeiro seu primeiro grande obstáculo. Diferente de modalidades coletivas, como o futebol, onde o talento pode ser descoberto por clubes e rapidamente patrocinado, o tênis exige investimentos pessoais pesados e contínuos antes mesmo de qualquer reconhecimento.
Em muitos casos, famílias inteiras precisam fazer sacrifícios para manter um filho em competições. Há relatos de jogadores que viajam longas distâncias de ônibus, dormem em hotéis simples ou até em carros, apenas para disputar torneios de menor expressão, na esperança de somar pontos no ranking e atrair patrocinadores. Porém, esses patrocínios nem sempre chegam. Assim, a cada torneio, a cada gasto, o atleta se depara com uma escolha cruel: continuar insistindo no sonho ou desistir e buscar um caminho mais estável financeiramente?
A solidão de um esporte individual
Outro grande desafio que se soma à falta de recursos é a solidão. No tênis, diferente de esportes coletivos, o atleta está sozinho em quadra. Não há companheiros para dividir a pressão; apenas o jogador e sua mente. Em torneios menores, muitos não têm sequer um técnico viajando com eles — o custo é alto demais. Isso significa que além de competir, o atleta precisa gerenciar sozinho sua preparação, analisar o próprio jogo e lidar com derrotas que, em momentos de fragilidade, parecem definitivas.
Esse cenário exige um preparo psicológico imenso. Muitos talentos se perdem não por falta de habilidade técnica, mas por não suportarem o peso emocional de enfrentar o circuito praticamente sozinhos. E, novamente, surge a questão das escolhas: seguir em frente, mesmo com toda a carga mental, ou abandonar o sonho para preservar a saúde emocional?
Quando a escolha é resistir
Apesar de todas as dificuldades, existem histórias que inspiram. O próprio Novak Djokovic, hoje um dos maiores nomes do tênis, cresceu em uma Sérvia devastada pela guerra, treinando em condições precárias, muitas vezes em quadras improvisadas e com restrições econômicas severas. Maria Sharapova, ainda criança, deixou a Rússia com o pai para treinar nos Estados Unidos, vivendo com poucos recursos e enfrentando o peso da distância da família. Esses exemplos mostram que, mesmo em cenários adversos, alguns escolhem resistir — e essa escolha os leva ao topo.
Outro grande exemplo e que virou filme, foram as vitoriosas irmãs Williams, o nome do filme é King Richard: Criando Campeãs. É um filme que conta a história de Richard Williams, pai e treinador das famosas tenistas Venus e Serena Williams, e sua determinação em transformar suas filhas em campeãs de tênis, apesar das dificuldades.
Mas é preciso reconhecer que, para cada Djokovic, existem milhares de atletas igualmente talentosos que não tiveram as mesmas oportunidades ou simplesmente não conseguiram sustentar financeiramente a própria carreira. Mesmo sabendo da situação complicada, é preciso ter muita coragem em escolher resistir e continuar com o seu sonho ou simplesmente parar com tudo, e reconhecer que esse sonho vai ter que ficar para trás.
O preço das escolhas e a realidade injusta
A frase “a vida é feita de escolhas” pode soar como um incentivo motivacional, mas no tênis, ela também carrega um tom de dureza. Escolher seguir no circuito muitas vezes significa abrir mão de estudos formais, de convivência familiar e até de necessidades básicas. É um risco enorme, pois o retorno financeiro é restrito a poucos. A grande maioria dos jogadores fora do top 100 mundial sobrevive com premiações pequenas, muitas vezes insuficientes para cobrir os custos de viagens e treinamentos.
Essa desigualdade no esporte levanta um questionamento importante: até que ponto o mérito pessoal basta quando as condições de partida são tão desiguais? O talento e a dedicação são essenciais, mas o apoio financeiro e estrutural podem ser o divisor de águas entre alcançar o sucesso ou abandonar precocemente o sonho.
A coragem de escolher
A vida no tênis, é realmente feita de escolhas. No entanto, para os atletas, essas escolhas são frequentemente impostas por fatores externos: falta de patrocínio, ausência de estrutura, desafios emocionais. Persistir no circuito profissional é, acima de tudo, um ato de coragem.
Cada vez que um jogador entra em quadra, carrega nas costas a incerteza do futuro, ele reafirma sua escolha de lutar, de acreditar que cada golpe na bola pode ser um passo rumo a algo maior. Talvez o destino não seja o estrelato, mas para muitos, a verdadeira vitória está em simplesmente continuar tentando. No tênis, como na vida, as escolhas definem quem somos, e quem ousamos ser.